08/12/2009

Sentes, Pensas e Sabes que Pensas e Sentes

Tem chuvido imenso... o que sentem?

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,

Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?''

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

(Obrigado pelo poema nos comentários, coloquei-o aqui porque "merece", é realmente bonito...)

7 Carneiradas...:

Anónimo disse...

estou a ver que gostas-te do poema, hahaha;

Eu pessoalmente adoro esse; tem alguma coisa mágica, que me encanta sempre que o leio;
simplesmente maravilhoso x)

beijinhu*

(ainda bem que gostas-te)

Aprendiz de Viajante... disse...

Gostei sim... ando numa "fase Caeiro"!

Um beijinho

Bruna Simões Pereira disse...

Na fase Ca(rn)eiro!

Anónimo disse...

beijinhu*

Anónimo disse...

"Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente"

Álvaro de Campos

Anónimo disse...

pézinhos de lã hoje gostei d teu pensamento d dia!!
Beijinhu*

Anónimo disse...

"Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo. . .

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena..." Alberto Caeiro

Lá não havia burro nem choupos, mas havia pés pobres e lavadeiras no rio... junto àquela ponte perigosa, logo a seguir a Almas e ao cruzamento do doce chimgumba...

Obrigada L. pela minha 1ªcolectânea de poesia...